O álcool, quando consumido de maneira exagerada, pode trazer sérios riscos à saúde. Entre as várias complicações decorrentes desse hábito, um dos mais graves é o aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame. Diversos estudos vêm confirmando essa relação, incluindo uma pesquisa lançada em abril de 2019 na revista científica The Lancet, que revelou que o consumo excessivo de álcool está diretamente associado a um risco maior de AVC.

O que é um AVC?

O AVC, ou acidente vascular cerebral, ocorre quando o fluxo de sangue para uma parte do cérebro é interrompido ou drasticamente reduzido, impedindo que as células cerebrais recebam oxigênio e nutrientes. Isso pode resultar em danos cerebrais permanentes, perda de função muscular, fala prejudicada, e, em casos mais graves, morte. Existem dois tipos principais de AVC:

  • AVC isquêmico: É o tipo mais comum, responsável por cerca de 85% dos casos. Ele ocorre quando um coágulo bloqueia o fluxo de sangue em uma artéria cerebral.
  • AVC hemorrágico: Menos comum, porém mais fatal, acontece quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe, provocando uma hemorragia cerebral.

O impacto do consumo excessivo de álcool

O álcool pode afetar o corpo de muitas maneiras. Quando consumido em excesso, ele altera a pressão arterial, aumenta o risco de arritmias cardíacas e prejudica a saúde dos vasos sanguíneos. Essas alterações são gatilhos que podem levar diretamente ao desenvolvimento de um AVC. Abaixo estão os principais mecanismos pelos quais o álcool em excesso pode aumentar esse risco:

  1. Pressão arterial elevada (hipertensão)

O álcool é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de hipertensão, uma condição caracterizada pela elevação da pressão arterial. O consumo excessivo de álcool provoca a constrição dos vasos sanguíneos, o que obriga o coração a trabalhar mais para bombear o sangue. Com o tempo, essa pressão adicional nas artérias pode enfraquecê-las e torná-las mais propensas a romper, aumentando o risco de um AVC hemorrágico.

  1. Arritmias cardíacas

O consumo excessivo de álcool também está associado a uma condição chamada fibrilação atrial, um tipo de arritmia em que o coração bate de maneira irregular e descoordenada. A fibrilação atrial aumenta significativamente o risco de AVC isquêmico, pois o ritmo cardíaco irregular pode levar à formação de coágulos no coração, que podem se deslocar até o cérebro, bloqueando uma artéria cerebral.

  1. Alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos

Beber em excesso pode causar um aumento nos níveis de colesterol ruim (LDL) e triglicerídeos, duas substâncias que contribuem para o acúmulo de placas nas artérias. Esse acúmulo, conhecido como aterosclerose, estreita as artérias e dificulta o fluxo sanguíneo para o cérebro, aumentando o risco de um AVC isquêmico.

  1. Danos aos vasos sanguíneos

O álcool em excesso pode causar inflamação nos vasos sanguíneos e tornar suas paredes mais frágeis. Esse enfraquecimento pode levar a pequenos rompimentos que, com o tempo, se acumulam em áreas críticas do cérebro, aumentando o risco de um AVC hemorrágico.

  1. Aumento do risco de coágulos

O álcool altera a coagulação do sangue, aumentando a tendência de formação de coágulos. Esses coágulos podem obstruir vasos sanguíneos no cérebro, resultando em um AVC isquêmico. O risco é ainda maior em pessoas que já têm fatores de risco, como hipertensão ou doenças cardíacas.

A pesquisa que reforça essa relação

A pesquisa publicada na revista The Lancet em abril de 2019 analisou dados de mais de 500 mil pessoas e concluiu que o consumo de álcool em excesso aumenta consideravelmente o risco de um AVC. De acordo com o estudo, indivíduos que consumiam mais de duas doses de álcool por dia estavam 38% mais propensos a sofrer um derrame em comparação com aqueles que consumiam quantidades menores ou que eram abstêmios.

Esse estudo foi uma das maiores pesquisas realizadas sobre o impacto do álcool na saúde cerebral e cardiovascular, e reforçou a necessidade de conscientização sobre os perigos do consumo excessivo.

O que é considerado excesso?

Quando falamos de consumo excessivo de álcool, é importante entender o que significa “excesso”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o consumo de álcool de risco como mais de duas doses diárias para homens e mais de uma dose diária para mulheres. Uma dose padrão de álcool corresponde a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 45 ml de destilados.

Embora algumas pessoas possam considerar esses valores baixos, os estudos indicam que até mesmo pequenas quantidades de álcool podem aumentar o risco de doenças graves quando consumidas regularmente. Por isso, é importante sempre beber de forma responsável.

Como reduzir o risco de AVC relacionado ao álcool?

A boa notícia é que o risco de AVC associado ao consumo de álcool pode ser reduzido com mudanças no estilo de vida. Aqui estão algumas dicas:

  1. Moderação é a chave: Limite o consumo de álcool a não mais do que uma ou duas doses por dia, conforme recomendado pela OMS.
  2. Controle a pressão arterial: A hipertensão é um dos principais fatores de risco para AVC. Reduzir o consumo de álcool é uma maneira eficaz de manter a pressão arterial sob controle.
  3. Pratique exercícios regularmente: A atividade física ajuda a manter a pressão arterial saudável e melhora a saúde cardiovascular em geral.
  4. Tenha uma alimentação equilibrada: Reduza a ingestão de alimentos gordurosos e mantenha uma dieta rica em frutas, legumes e grãos integrais, o que ajuda a controlar os níveis de colesterol.
  5. Controle o peso: O consumo excessivo de álcool está associado ao ganho de peso, que também é um fator de risco para o AVC.
  6. Evite o tabagismo: O álcool e o tabaco combinados aumentam exponencialmente o risco de doenças cardiovasculares, incluindo o AVC.

O consumo de álcool em excesso pode ter um impacto devastador na saúde, especialmente no que diz respeito ao risco de acidente vascular cerebral. Tanto o AVC isquêmico quanto o hemorrágico podem ser desencadeados ou agravados pelo uso excessivo de álcool, seja por meio de alterações na pressão arterial, arritmias cardíacas ou danos aos vasos sanguíneos.

A conscientização sobre os perigos do álcool e a adoção de hábitos saudáveis são fundamentais para reduzir o risco de AVC e outras doenças graves. Se você consome álcool regularmente, é importante avaliar sua quantidade e frequência, e considerar fazer ajustes para proteger sua saúde a longo prazo. Afinal, prevenir é sempre melhor do que remediar.